A APLICAÇÃO DA HOMEOPATIA NAS PANDEMIAS - UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

  

Há 2.900 médicos homeopatas no Brasil Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Há 2.900 médicos homeopatas no Brasil Foto: Ana Branco / Agência O Globo


Instituto de Saúde Integral

V Curso de Especialização em Homeopatia

Brasília – Distrito Federal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A aplicação da homeopatia nas epidemias

Um levantamento bibliográfico

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2005

 

 

 

 

 

 

Trabalho de monografia como exigência parcial para conclusão do Curso de Especialização em Homeopatia do Instituto de Saúde Integral – Brasília – Distrito Federal.

 

 

 

 

 

 

 

 

Orientadora:

Drª. Ozélia  Evangelista

 

 

 

 

 

 

 

Autora:

Margareth Frossard Ribeiro Mendes

 

 

 

 

“Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas estejam tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade”. (MAHATMA GANDHI)

 

 

 

Índice

 

  1. Introdução e Justificativa, 1
  2. Questões específicas, 3
  3. Hipóteses, 4
  4. Objetivos gerais, 5
  5. Metodologia, 6
  6. Doenças agudas, 7
  7. Gênio medicamentoso, gênio da doença, gênio epidêmico, 9
  8. O individual e o coletivo, a suscetibilidade, a predisposição e noxa, 13
  9. Revisão bibliográfica, 18

9.1. Hahnemann, 18

9.2. AIDS/SIDA, 21

9.3. Cólera, 23

9.4. Conjuntivites, 25

9.5. Dengue, 29

9.6. Ebola, 31

9.7. Meningites, 33

9.8. Febre tifóide, 34

9.9. Hantavirose, 35

     10. Discussão, 43

     11. Conclusões, 45

    11. Referências bibliográficas, 47

 

 

 

 

Agradecimentos

 

 

 

 

 

 

Porque o único sentido oculto das cousas

É elas não terem sentido oculto nenhum,

É mais estranho do que todas as estranhezas

E do que os sonhos de todos os poetas

E os pensamentos de todos os filósofos,

Que as cousas sejam realmente o que parecem ser

E não haja nada que compreender.

 

 

                        Fernando Pessoa

 

 

 

 

Agradeço ao Instituto de Saúde Integral pela oportunidade de ter realizado este curso que tanto crescimento me trouxe. Em especial ao professores que dedicaram horas preciosas de suas vidas para repassar seus conhecimentos.

 

Agradecemos a minha orientadora por suas contribuições singelas e profundas além da paciência e atenção que sempre me atendeu. E aos familiares e amigos pelo apoio, compreensão que tiveram durante este período.

 

 

Introdução e Justificativa

            Os avanço tecnológicos e científicos do mundo atual não são capazes de impedir o surgimento e o retorno de doenças emergentes e re-emergentes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

            A globalização da vida dos países e indivíduos, os avanços na informação do código genético, a identificação de agentes patogênicos de doenças desconhecidas em pouquíssimo tempo, não são ainda elementos necessários para prever a ocorrência de doenças e medidas preventivas capazes de debelar surtos e epidemias em todos os recantos do mundo.

            Como vimos à pandemia do HIV/AIDS, as epidemias dos vírus da dengue, o ressurgimento da tuberculose e cólera, a ocorrência de doenças como a hantavirose recentemente no Distrito Federal. Observamos nas enfermidades agudas as diferentes evoluções dos indivíduos acometidos, alguns evoluindo para a cura e outros evoluindo para a morte.

            Diante da possibilidade da disseminação de agentes etiológicos, no mundo globalizado, onde as distâncias se encurtaram, os produtos industrializados circulam entre os países rapidamente. As pessoas atravessam de um continente a outro em poucas horas, permitindo o transporte de agentes infecciosos de um lado a outro no mundo moderno.

            Nesta perspectiva de disseminação rápida de doenças e no surgimento contínuo de patologias inusitadas ou de ocorrência até então desconhecida em determinadas regiões, partimos para as seguintes indagações: Seria possível a intervenção em epidemias ou surtos com a medicação homeopática? Qual a metodologia que deverá ser aplicada para se chegar ao gênio epidêmico e o gênio medicamentoso em uma epidemia ou surto? A utilização do gênio epidêmico seria a utilização do medicamento homeopático para a doença e não para o doente, deixando desta forma de cumprir com um dos princípios da homeopatia, a individualização?

            Neste trabalho pretendemos realizar um levantamento bibliográfico sobre o tema “gênio epidêmico”, a evolução histórica da busca do gênio epidêmico e a metodologia utilizada para se encontrar os medicamentos que se assemelham ao quadro da doença.

 

 

Questões específicas

1. Em que consiste o Gênio Epidêmico?

2. Sendo a homeopatia uma prática médica que individualiza cada caso, através dos sintomas mentais, gerais e físicos, como aplicar o conceito de gênio epidêmico?

3. Como se deve prescrever o medicamento homeopático no tratamento de doenças epidêmicas?

 

 

Hipóteses

 

  • A suscetibilidade é a força capaz reagir todos os fatores que propiciam a instalação da doença.
  •  A homeopatia pode ser empregada para a tratamento e prevenção de doenças contagiosas de caráter epidêmico.

 

 

Objetivos Gerais

- Conhecer a metodologia para aplicação do gênio epidêmico em doenças epidêmicas e endêmicas.

- Conhecer o valor da homeopatia na prevenção e tratamento de doenças epidêmicas.

- Encontrar os medicamentos que poderiam corresponder ao gênio epidêmico do surto de hantavirose ocorrido no Distrito Federal em 2004.

 

 

Metodologia

 

Feito o levantamento histórico sobre as diversas epidemias vivenciadas por Hahnemann e o conhecimento de termos básicos para o entendimento do conceito de gênio epidêmico e aplicação da homeopatia nas doenças epidêmicas.    Procuramos então os trabalhos que descrevem os diversos estudos de epidemias ou endemias, e separamos a discussão dos trabalhos em ordem alfabética, deixando por último um breve estudo dos casos de hantavirose ocorridos no Distrito Federal em 2004, em busca dos medicamentos que mais se assemelham ao quadro clinico deste agravo a saúde.

          Buscamos junto às bibliotecas médicas trabalhos científicos que não só dessem o embasamento para o entendimento da aplicabilidade da homeopatia em doenças epidêmicas, e também entender como seriam respeitados os pilares básicos da homeopatia tais como a individualidade do paciente, a cura pelo semelhante, a ação do medicamento homeopático usado coletivamente.

           

 

 Doenças agudas

           

            A classificação das doenças segundo a medicina clássica tem como parâmetro o critério cronológico. Conceitua enfermidade aguda aquela doença com inicio recente, que dura menos de três semanas. A doença subaguda é aquela que dura mais de três ou quatro semanas. Doença crônica tem duração maior que seis semanas.

Hahnemann no parágrafo 72 do Organon dá a definição de doença aguda e crônica para a homeopatia. As doenças agudas são aquelas que “tendem completar seu curso de um modo mais ou menos moderado, num curto período de tempo” e evoluem espontaneamente para a cura ou para morte. Doença crônica tem evolução continua, às vezes com períodos de latência dos seus sintomas outras vezes com exacerbação destes sintomas. Mantém-se continuamente, não ocorrendo cura espontânea. Exceto quando ocorrer a cura através de tratamento que estimule a força vital.

As doenças agudas podem ser agrupadas, segundo Ana Kossak:

1.      Doenças agudas de natureza não dinâmica:

a.      Indisposições simples;

b.      Doenças cirúrgicas;

c.      Doenças traumáticas e locais provocadas por causas externas.

2.      Doenças agudas dinâmicas:

a.      Individuais (episódios miasmáticos);

b.      Coletivas esporádicas;

c.      Coletivas específicas;

d.      Epidêmicas.

         A doença individual aguda depende de fatores orgânicos, hereditários e do miasma.  A sensibilidade a uma determinada exposição, por exemplo, clima úmido, é agressivo para alguns indivíduos. As doenças agudas podem ser decorrentes da exacerbação da psora latente ou epidêmicas e infecciosas específicas, independentes da natureza miasmática ou do terreno.

            As enfermidades coletivas são doenças agudas que podem ser esporádicas, específicas ou epidêmicas. Segundo Ana Kossak as enfermidades agudas coletivas esporádicas ocorrem por influências climáticas, metereológicas, alimentares, ecológicas atingem grande número de pessoas predispostas, eventualmente traduzindo-se por uma explosão da psora.

            A doença aguda coletiva específica é do tipo epidêmico que geralmente se apresentam da mesma maneira, acometem as pessoas uma vez na vida, raramente mais de uma vez, com sinais e sintomas patognomônicos bem definidos, permitem um diagnóstico exato e geralmente possuem um nome tradicional. Como exemplo temos rubéola, parotidite, coqueluche, sarampo, etc.

            A doença aguda coletiva epidêmica propriamente dita, ou febris, apesar de terem manifestações clinicas características que permitem o diagnóstico, apresentam diferenças entre um surto e outro. São geralmente contagiosas, evoluem para cura espontânea ou óbito. Podem deixar seqüelas, não beneficiam organismo e não dependem da Psora.

           

Gênio medicamentoso, Gênio da doença e Gênio epidêmico.

           

            No parágrafo 34 do Organon, Hahnemann, descreve que a doença artificial produzida pelo medicamento deve ser mais semelhante possível à doença a ser curada.

            Na experimentação dos medicamentos, os experimentadores apresentam sintomas que individualizam a medicação experimentada, de uma forma peculiar e proeminente a aquele medicamento. Estas características dos sintomas é o que se chama Gênio do remédio.

 

“... definir o significado do termo genius. Gênio (gigno, geno) de acordo com as melhores citações significa a natureza inata; O que é peculiar para qualquer coisa, e constitui sua identidade, sua natureza, disposição, caráter peculiar, etc.”

“Conseqüentemente, você perceberá que o termo genius, quando aplicado a um remédio, significa aquilo que é peculiar para o remédio, e que constitui sua identidade ou sua individualidade, e o distingue de todos outros”.(GUERNSEY, 1870-1871,p.181-185)

 

 Qualquer que seja a doença, cada indivíduo apresentará seus sintomas de uma maneira individualizante, mesmo que estas patologias apresentem sinais e sintomas patognomônicos, estes serão sentidos de uma forma peculiar para cada caso da doença. O Gênio da Doença então é a combinação destes sintomas e condições peculiares e característicos que vão compor o gênio daqueles casos da doença.

            O termo Gênio então significa aquilo que dá identidade, que individualiza.

Os sintomas patognomônicos são sintomas ou condições que ocorrem em quase todos os casos de uma certa doença, ou comuns a todos os casos de uma determinada doença.

            Vemos, por exemplo, a dengue clássica definida como uma doença febril aguda, seguida de cefaléia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, dor retroorbital, náuseas, vômitos, exantema, prurido cutâneo. Estes sintomas são considerados patognomônicos de dengue clássica, existem diferenças na apresentação do conjunto dos sintomas de uma epidemia ou surto para outro. Além dos sintomas individuais apresentados por cada paciente ou por grupos deles acometidos no mesmo período.

            Na nota do parágrafo 81 do Organon, Hahnemann coloca que em epidemias de uma mesma patologia, jamais retorna do mesmo modo, diferindo em seu curso, em vários de seus sintomas mais marcantes. Na prática clinica observamos que de um surto de dengue, por exemplo, para outro, os sintomas patognomônicos diferem em intensidade e até mesmo no modo de sua apresentação nas pessoas atingidas pela doença.

“... cada epidemia isolada é de caráter peculiar, uniforme e particular comum a todos os indivíduos  afetados e, quando esse caráter se encontra no conjunto característico dos sintomas comuns a todos, aponta-nos o caminho para a descoberta do medicamento homeopático (específico) adequado para todos os casos, o qual, então, é praticamente eficaz em todos os doentes que gozavam de saúde razoável antes da epidemia, isto é, que não sofriam cronicamente de psora desenvolvida”. (HAHNEMANN, 2001, p.132)

 

Segundo o Dicionário Aurélio palavra gênio significa “espírito benéfico ou maléfico, que, segundo os antigos, presidia ao destino de cada um, ao das cidades, de certos lugares, era responsável pelo desencadear de determinados fatos etc” (Novo Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira).

            Epidêmico é definido como “relativo a, ou que tem caráter de epidemia”. Epidemia é uma doença que surge rapidamente num lugar e acomete simultaneamente grande número de pessoas. Surto de agravação duma endemia “(Novo Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira).

         Em Filosofia Homeopática, 2002, pagina 44, segundo parágrafo, James Tyler Kent, orienta sobre qual a metodologia para se identificar o Gênio epidêmico. Diz que um médico ao fazer um diagnóstico clínico de uma doença contagiosa, nos primeiros casos poderá até confundi-la com epidemia anterior. E Hahnemann no Organon parágrafo 100 elucida que as doenças com caráter contagioso são sempre as mesmas.

Na investigação da essência sintomática das doenças epidêmicas ou esporádicas, é indiferente que tenha ocorrido algo semelhante no mundo, sob este ou aquele nome. A novidade ou a peculiaridades de uma tal epidemia não faz diferença, quer no exame, quer no tratamento, visto que o médico, mesmo assim, deve pressupor o quadro puro de cada doença atual dominante como algo novo e desconhecido e investigá-lo pela base, se pretender ser um genuíno e criterioso artista da cura, não podendo numa colocar a suposição no lugar da observação, nem supor, total ou parcialmente, conhecido um caso de doença que estiver encarregado de tratar, sem explorar cuidadosamente todas as suas manifestações, tanto mais que, em muitos aspectos, cada doença dominante é um fenômeno com suas próprias características e, num exame meticuloso, é identificado como completamente diferente de todas as epidemias anteriores, erroneamente documentadas sob certos nomes; excetuando-se as epidemias resultantes do princípio contagioso, que sempre é o mesmo, como a varíola, o sarampo, etc. (HAHNEMANN,2001, p.141).

 

Deverá então anotar de forma esquemática todos os sintomas presentes nos casos, inclusive os sintomas mentais de cada mentais de cada caso. Assim estes sintomas coletivamente considerados apresentarão uma imagem daquela doença em particular. Orienta a fazer uma tabela de freqüência de cada sintoma e o número de casos que o apresenta e assim descobriremos o que chama de traços essenciais da epidemia. E segundo ele o medico então será capaz de ver como a doença afeta cada individuo e a coletividade, como se um único paciente estivesse vivenciando todos os sintomas e assim será capaz de ver o que é geral e particular naquela epidemia. A natureza da doença será vista pelos sintomas patognomônicos e pelos sintomas raros ou peculiares. Daí passa-se para o passo de descobrir qual o medicamento que mais se assemelha a aquela epidemia de um modo geral. Pode-se chegar a um medicamento ou a um grupo deles e com eles se conseguirá curar todos os casos daquela doença naquela epidemia. O remédio do grupo epidêmico funcionará na grande maioria dos casos, esporadicamente surgirá um caso que deverá ser tratado individualmente.

                                                “Para percebermos o que deve ser curado nas doenças devemos caminhar dos gerais para os particulares, estudando a doença em seus traços mais gerais, não como são vistos sobre um indivíduo em particular, mas sobre toda a raça humana” (KENT, 2002, p. 43).

 

 

O individual e o coletivo, a suscetibilidade, a predisposição e noxa.

A homeopatia trata cada indivíduo como um ser único, diferentemente da alopatia que tem o mesmo tratamento para todos os indivíduos que apresentam a mesma doença, onde se trata a doença e não os doentes. A maior prova da incoerência deste conceito da alopatia é a de que com mesmo tratamento há resposta ou supressão de sintomas em alguns e em outros a droga não tem o efeito esperado.

            O que individualiza cada ser? No parágrafo 9 do Organon, Hahnemann  diz que  a força vital, mantém todas as partes e o todo individuo em processo harmônico, e que o espírito que utiliza deste instrumento para os mais altos fins de sua existência. Então se pode entender que a força vital é a energia que mantém as funções do organismo em funcionamento, mas estes comandados pelo espírito racional. Este espírito racional individualizaria cada ser.

            James Tyler Kent, em Filosofia Homeopática, 2002, no capítulo 30, página 244, sobre a individualização, escreve: “Sem os sintomas gerais de um caso não é possível praticar a Homeopatia, pois sem eles não se pode individualizar nem ver as diferenças”.

            E quanto às doenças epidêmicas como encontrar o que individualiza, ou que torna suscetível as pessoas afetadas. Voltando a Filosofia Homeopática, pagina 59, James Tyler Kent escreve que as doença agudas são de dois tipos, as miasmáticas, doenças verdadeiras e o segundo tipo as doenças mimetizantes, que são provocadas por causas externas como viver em ambientes insalubres, roupas inadequadas ao clima, o desgosto. Em epidemiologia, todas as epidemias ou surtos, busca-se não só os fatores ambientais ou hábitos como fatores que predispõem um indivíduo a ter um maior risco de adquirir um determinado agravo, mas também um agente etiológico que seria o produtor da doença em cada indivíduo. Mas para J.T. Kent, além dos fatores externos físicos há um fator emocional desencadeante que predispõe e torna suscetível uma determinada parcela da população a ser afetada por uma doença.

Em contradição a isto, coloca-se na classificação das doenças agudas epidêmicas que estas não dependem da psora. Como então uma parcela da população torna-se suscetível a determinado agente etiológico, produzindo quadros clínicos exuberantes e que colocam em risco a vida de determinadas pessoas acometidas. Em muitas destas doenças de caráter epidêmico vemos pacientes que apesar de serem infectados pelo agente etiológico não apresentam nenhuma manifestação da doença, sendo confirmado laboratorialmente o contagio. O que torna este tipo de indivíduo menos vulnerável?

Em o Organon, Hahnemann alerta sobre a importância da suscetibilidade no caminho de adquirir uma determinada patologia, mostrando a suscetibilidade como uma força que favorece o adoecimento, proporcionando o terreno para a invasão ou proliferação de agentes patológicos externos.

De fato, as forças hostis da vida na Terra, em parte psíquicas, em parte físicas, que são chamadas agentes nocivos mórbidos, não possuem o poder absoluto de alterar a saúde humana, pois somente adoecemos por seu intermédio quando nosso organismo esta precisamente predisposto a isso e suficientemente suscetível aos ataques da causa mórbida em curso e às alterações e perturbações em seu estado de saúde, passando a ter sensações e funções anormais. Eis porque, nem sempre e nem todas as pessoas se tornam doentes em virtude de tais forças.(HAHNEMANN, 2001, p.87)

 

Suscetibilidade é a capacidade do organismo de receber as impressões e o poder de reagir aos estímulos. Todos os processos vitais, fisiológicos e patológicos dependem da suscetibilidade. A suscetibilidade é um processo individual que temos para aceitar ou reagir aos estímulos.

Em Filosofia Homeopática, Kent coloca que a psora é a causa de todas as doenças e que a suscetibilidade a psora remonta a doença espiritual. Masi Elizalde defendia que a psora é a suscetibilidade e que todas as doenças tem origem endógena, até mesmo aquelas que a medicina tradicional demonstra como agente etiológico um agente externo.

A cura ou o alívio das doenças depende do poder do organismo para reagir à impressão do remédio curativo. Quando um remédio homeopaticamente selecionado é administrado para uma pessoa doente, o desaparecimento dos sintomas e a restauração da saúde do paciente representam a reação do organismo suscetível à impressão do remédio curativo.

Se após a administração de um medicamento curativo homeopaticamente selecionado ocorrer agravação ou leve intensificação dos sintomas isto significa que houve reação do organismo, talvez previamente inativo ou agindo impropriamente por causa da suscetibilidade.

Então a suscetibilidade é um estado que envolve a atitude de organização das causas internas e das influências externas. É todo um recurso de reação ou falta dela.

Segundo Zanatta (1999 apud, Freud, 1976, p.119) descreve a resposta coletiva-individual:

“A resposta imediata e mais certa é que ela consiste em certas disposições [inatas], características de todos os organismos vivos: isto é, na capacidade e tendência de ingressar em linhas específicas de desenvolvimento e de reagir, de maneira específica, a certas excitações, impressões e estímulos... elas representam o que identificamos como sendo o fator constitucional dos indivíduos”.

 

               

Hahnemann descreve no parágrafo 73 do Organon, em que descreve sobre os tipos de doenças que atacam os homens, as individuais, as esporádicas e as epidêmicas.

“...próximos a estas, estão aquelas que atacam epidemicamente muitas pessoas por semelhantes causas e com padecimentos muito semelhantes, habitualmente se tornando contagiosas quando envolvem massas humanas compactas... As calamidades da guerra, as inundações e a fome, não raro as provocam e são sua origem”. (Hahnemann, 2001, p.124).

           

            As modificações climáticas e ambientais, as emoções, os agentes bacterianos, virais são forças dinâmicas que atuam como noxas capazes de adoecer o indivíduo somente quando este for sensível ou predisposto. Então, noxa significa um estímulo desencadeante, o agente que atinge o indivíduo suscetível. Noxa vem do latim que significa dano, algo injurioso ou danoso à saúde ou à moral.

            Quando uma população é atingida por uma ou mais noxas coletivas, cada individuo irá reagir de acordo com  seu potencial genético e sua suscetibilidade.

            Na introdução deste trabalho discutíamos a questão de reaparecimento de doenças controladas ou mesmo que não tinham mais casos registrados há muitos anos e que retornam de forma epidêmica. A população de nosso país atualmente enfrenta noxa coletiva da violência urbana, a descrença nos representantes políticos e conseqüentemente nas instituições políticos diante de escândalos constantes e diários. Além da manutenção das diferenças sociais e distribuição de renda. São inúmeros os fatores que podem atingir um grupo de pessoas e atuar como noxa coletiva.

            A predisposição é a tendência de estar disposto com antecedência e envolve fatores hereditários que fazem parte do genótipo de cada indivíduo. E o termo idiossincrasia é a predisposição mórbida exagerada, uma sensibilidade exagerada do organismo ou do ser a determinados estímulos.

 

Revisão bibliográfica

Hahnemann

Em torno de 1794 , na Vila Karstadt,  durante uma epidemia  de  sarna Hahnemann estudou os casos que atendia, e encontrou que os sintomas oscilavam entre os medicamentos calcarea carbônica e sulphur, então teve a idéia de fazer uma combinação entre os dois remédios com grande êxito na cura dos casos. Deu também instruções sobre os cuidados de higiene e da profilaxia dos habitantes daquele lugar a fim de evitarem a enfermidade.

Mais tarde experimentou nele próprio e em alguns médicos seus colaboradores esta combinação entre os dois medicamentos surgindo então o novo medicamento chamado Hepar sulphuris calcareum.

Em Escritos Menores, Alguns Tipos de Febres Continuas e Remitentes. Publicado em 1797 no Diário de Medicina Prática de Hufeland. Hahnemann discute a grande variedade de febres esporádicas e epidêmicas. A primeira descrição de uma febre contínua em janeiro de 1797, que acometia a população infantil. Descreve os seguintes sintomas: pele quente, calafrios contínuos, grande lassidão e memória debilitada. Além de respiração curta (difícil) e espasmódica, tosse opressiva, urina escura com sedimento roxo, vômitos, suor frio. Experimentou China officinalis e arnica, sem bons resultados. Ignatia amara (fava de santo Ignácio) foi o medicamento que Hahnemann teve bons resultados.

            O segundo relato foi de março de 1797, de febre que afetou em maior número crianças, mas um menor número de casos em adultos. Opium foi à medicação que atuou bem nos pacientes.

Um terceiro relato foi sobre uma gripe ocorrida em abril de 1797. Segundo ele o quadro clínico era totalmente diferente da epidemia ocorrida cinco anos antes.

A epidemia de 1782, a quarta parte dos habitantes apresentaram uma febre reumático-catarral por sete dias. Todos os casos tinham o mesmo grau de intensidade dos sintomas, apenas correndo maior risco as pessoas debilitadas. Na epidemia de 1797, noventa por cento da população teve uma gripe leve sem maiores riscos, e dez por cento dos casos apresentaram febre e risco real.

Hahnemann classificou os casos pela gravidade, mas experimentou cânfora, em todos os casos, sendo este o gênio medicamentoso desta epidemia de gripe. Descreve com detalhes os sintomas apresentados e  observa que no caso da gripe, mesmo as pessoas que apresentam doenças crônicas são acometidas por ela, mascarando os sintomas das doenças crônicas.

Hahnemann testemunhou uma severa epidemia de escarlatina e conhecendo o poder de belladona de produzir um estado similar ao primeiro estágio da escarlatina, utilizou-a, com grande sucesso, nesse período da doença e viu que não era apenas um curativo, mas um remédio preventivo para aquela doença. Numa família de quatro crianças, três foram acometidas pela doença, somente uma que já tomava belladona por causa de uma afecção em articulação dos dedos, não foi atingida pela doença. Depois testou a medicação em outra família com oito crianças, onde três foram acometidas pela epidemia, e de imediato, prescreveu as demais crianças também belladona em pequenas doses e , como esperava, todas as cinco crianças não foram atingidas pela doença, apesar do contínuo contato com os doentes.

Somente belladona podia satisfazer a maior parte das indicações desta enfermidade ao determinar ela mesma, entre seus efeitos primitivos, um abatimento taciturno, um olhar apagado e fixo, uma grande abertura da palpebral, obscurecimento da visão, frio e palidez facial, ausência de sede, pulso pequeno e duro, taquicardia, impossibilidade de mover as extremidades que estão quase paralisadas, dificuldade de engolir com batidas a nível da parótida e cefaléias compressivas, dores constritivas em baixo ventre que se tornam intoleráveis quando abandona a postura de dobrar-se em dois, frio e calor por partes excluindo outra, por exemplo a cabeça e os braços.( Hahnemann, Escritos Menores – Enciclopédia Radar)

 

            No ano de 1831, o cólera invadiu a Alemanha, Hahnemann descobriu de imediato os medicamentos mais semelhantes a aquela epidemia de cólera e redigiu orientações a serem impressas a população, de modo que por ocasião da invasão da epidemia, os médicos homeopatas já estavam preparados para o tratamento e a profilaxia da doença, indicando como simillimum do mal o Cuprum metalicum. E assim muitas vidas foram salvas. O resultados publicados:

                        Total de doentes tratados com o método homeopático: 1270

                        Curados: 1162 (91,5%)

                        Óbitos: 108 (8,5%)

            A taxa de mortalidade, entre os doentes tratados pelos métodos alopáticos foi de 50% a 60% dos casos.

 

AIDS/SIDA

            Em 1981 os primeiros casos da doença foram relatados, quase todos os casos eram de homens jovens e homossexuais, mais tarde surgiram casos em heterossexuais e por transfusão sanguínea de indivíduos infectados para não infectados.          A Síndrome da Imunodeficiência adquirida que ocorre pela infecção do vírus HIV alterou profundamente a sociedade e a prática médica atual. Este vírus tem a função de desarmar o sistema imune do hospedeiro, atingindo o sub-grupo auxiliar-indutor de linfócitos (CD4), que age como coordenando central das funções imunes. A doença então é considerada uma doença do sistema imune, caracterizada pela redução progressiva dos linfócitos CD4.

            O trabalho que analisaremos sobre esta doença ou sobre o grupo de doentes estudados é de 1985, cujo autor Vijnosvsky, Bernardo, sob o título, A SIDA e a Homeopatia.

            O autor inicia o trabalho descrevendo a aparição desta nova enfermidde que atingia o sistema imunológico e separando as pessoas em três: os de doentes, de infectados e não portadores mas com grande possibilidade de infecção. Relata que os grupos humanos que tinham maior risco eram homossexuais, os drogaditos e hemofílicos e que havia somente seis anos que havia sido descrito os primeiros casos.

            Discute como a homeopatia poderia colaborar para o tratamento destes doentes , qual seria o gênio epidêmico desta enfermidade infecciosa, já que esta diferia das doenças epidêmicas agudas que eram doenças geralmente febris que  atingiam uma grande parcela da população de uma só vez.

            Analisando os seguintes sintomas: cansaço contínuo, febrículas prolongadas, suores noturnos, emagrecimento, diarréias, adenopatias, aftas na boca e leucopenia. As feridas demoravam a se curar, como a rubrica repertorial para expressar a imunodeficiência da doença.

            Os resultados foram Arsenicum álbum, Sulphur, Nitric acidum, Phosphorus, Carbo vegetalis, Lycopodium, Calcarea carbônica e Muriaticum acidum. Todos cobriam os oito sintomas selecionados. Todos eram policrestos exceto Muriaticum acidum, fato que chamou a atenção do autor. E tira a conclusão que os homeopatas não são desprovidos de armas eficazes para enfrentar enfermidades novas ou já conhecidas que acometem grupos populacionais.

 

 

Cólera

            O cólera é uma enfermidade infecciosa, em forma de diarréia aguda causada pela enterotoxina do Vibrio Cholerae instalada no intestino delgado.

O cólera asiático foi descrita desde o tempo de Hipócrates. Em 1629 já era relatada pelos viajantes, em 1817 começou na Índia a primeira grande epidemia que se espalhou para China e de 1827 chega a Europa.

            Em 1831, Hahnemann escreve vários trabalhos sobre o tratamento do cólera, utilizando  no início do tratamento e também como preventivo a Cânfora porque nesta epidemia os sintomas mais freqüentes eram cãibras, prostração, dificuldade  de se manter em pé, face e mãos cianóticos e frios, sensação de queimação no esôfago e estomago, ausência de sede, vômitos e diarréia.

            Após esta fase inicial utilizava dependendo dos sintomas, Cuprum, Veratrum álbum, Bryonia ou Rhus toxicodendrom, Phosphorus e Phosphoricum acidum. Durante as diversas epidemias os resultados entre o tratamento homeopático e  alopático foram evidentes a favor da homeopatia.

            Em 1836, a homeopatia estava proibida em Viena. Durante esta epidemia de cólera puderam fazer o uso de medicamentos homeopáticos em ambiente hospitalar e os resultados foram favoráveis para o tratamento homeopático e em conseqüência disto a proibição da homeopatia foi derrubada. Dois terços dos pacientes tratados com homeopatia se curaram e  com tratamento alopático dois terços morreram.

            Na epidemia em toda Europa em 1854, 51,4% dos enfermos evoluíram para óbito (462.481 óbitos no total de 901.413 casos da doença), enquanto dos 16.884 enfermos tratados com a homeopatia, morreram apenas 1.896 doentes. Nesta época, o Hospital Homeopático de Londres, a mortalidade dos casos tratados com homeopatia foi de 11,2 % e entre os pacientes tratados com alopatia foi de 54%.

            Em 1936, o Dr. Joaquim Duarte Murtinho, edita um trabalho que fala sobre o gênio medicamentoso da epidemia de cólera em Corumbá, Mato Grosso, indicando Cânfora, Ricinus communis, Ipecacuanha, Tartarus emeticus, Phosphoricum acidum, Íris versicolor, Veratrum álbum, Arsenicum, Cuprum metallicum, entre outros medicamentos.

            Em 1991, em Quito, Equador, foi realizado um estudo com o título O cólera epidêmico e a homeopatia, onde os sintomas mais freqüentes foram cãibras intensas  nos braços e pernas, diarréia aquosa como água de arroz e vômito bilioso no início e depois vômitos fecalóides. Grande debilidade,cefaléia, pele seca, e enrugada, sede intensa e vômitos após beber água, olhos fundos, edema e colapso, extremidades frias.

            Os sintomas que individualizavam esta epidemia eram diarréia muito quente com pele fria, calafrios e calor interno, voz baixa, afonia, sensação de ouvidos tampados, inquietude interna e sensação de morte iminente.

            Os medicamentos que cobriam a totalidade dos sintomas era Arsenicum álbum, Phosphorus, Pulsatilla, Mercurius solubilis, Nux vômica, Sulphur, Veratrum álbum, Secale, Carbo vegetalis, Camphora.

   

Conjuntivites

 

            A inflamação da conjuntiva é chamada de conjuntivite, e é uma das doenças oculares mais comuns. As conjuntivites podem ocorrer quando alguns dos mecanismos de proteção falham, permitindo com que ocorra a proliferação na conjuntiva de bactérias, vírus ou fungos, por exemplo. Além disso, vários outros fatores podem desencadear uma conjuntivite, como: infecções parasitárias, alergias, produtos químicos, drogas, medicamentos, doenças sistêmicas, além das conjuntivites de etiologia desconhecida.

            O primeiro trabalho sobre conjuntivites que iremos analisar é um estudo duplo cego avaliando o uso de Euphrasia 30c ou placebo na prevenção das ceratoconjuntivites durante uma epidemia ocorrida em Pittsburg, USA.

            A escolha de Euphrasia nesta epidemia não foi baseada na totalidade sintomática, mas sim através do gênio epidêmico de epidemias anteriores de conjuntivite e de sarampo.

            Este estudo foi do tipo duplo cego randomizado, composto de  dois grupos de escolares de 4 a 15 anos. O primeiro grupo tinha 658 pacientes que usaram Euphrasia 30c profilaticamente por 3 dias sucessivos. O grupo controle era composto de 648 participantes que usaram placebo.

Os sintomas foram avaliados segundo uma pontuação, entre eles foram: Sensação de queimação nos olhos, pontuação = 1;

Olhos vermelhos, pontuação = 1;

Edema palpebral, pontuação = 1;

Hemorragia subconjuntiva, pontuação = 3;

Fotofobia acompanhada de olhos vermelhos ou hemorragia subconjuntival = 3.

Os resultados não tiveram significância estatística, não houve diferença na incidência e na gravidade da doença entre o grupo experimental e o grupo controle. Dos 658 pacientes do grupo experimental 48 (7,3%) pacientes desenvolveram de conjuntivite e dos 648 pacientes do grupo controle 43 (6,6%)  desenvolveram a doença.

            A  base principal para se atingir o gênio epidêmico de uma epidemia é a valorização dos sintomas que individualizam aquela epidemia e neste estudo esta avaliação não foi feita. Apesar de ter sido um estudo duplo cego não houve a busca do gênio epidêmico e sim foi testada a eficácia de um medicamento para conjuntivite, nos moldes alopáticos.

Mas o trabalho tem valor como protocolo para outros estudos do gênio epidêmico, apenas deverá ser investigados os sintomas patognomônicos e aqueles que individualizam aquela epidemia.

O segundo trabalho vem de Cuba, em 1995, uma epidemia de ceratoconjuntivite epidêmica (conjuntivite hemorrágica). A amostra foi de 108 pacientes, distribuídos aleatoriamente para tratamento homeopático e e o grupo controle fez tratamento alopático.

Os sintomas foram anotados em ficha epidemiológica assim como os sinais do exame físico, anotando as modalidades características da dor ocular, das secreções, lágrima, edema palpebral e sintomas extra oculares com suas agravações e melhoras.

Pela repertorização o medicamento mais importante era Pulsatilla. Outros medicamentos com resposta parciais foram Mercurius solubilis e Euphrasia. Foi utilizado Pulsatilla 6 CH, pelo método plus a cada duas ou três horas, com maior espaçamento entre as doses segundo o grau de melhoria de cada paciente. O critério de melhora foi o desaparecimento dos sintomas como dor, lacrimejamento, edema palpebral e secreção ocular, mesmo que persistisse a hemorragia.

Nos casos em que houve persistência dos sintomas, sem melhora por 72 horas ou aparecimento de novos sintomas foram tratados individualmente após nova repertorização.

Dos 138 casos, 30 foram excluídos por falta de seguimento ou por uso de medicação alopática. O total de pacientes acompanhados caiu para 58 casos com tratamento homeopático e 50 com tratamento alopático. A distribuição por faixa etária foi 51,9% entre 15 e 44 anos, 22,2% menor de 15 anos, 8,3% entre 45 e 60 anos e com mais de 60 anos 17,6%. A distribuição por sexo foi 41,7% do sexo masculino e 58,3% do sexo feminino. Entre os casos 77,8 % não tinham antecedentes de enfermidade ocular. Os sintomas foram modalizados e distribuídos percentualmente. Os resultados estão apresentados na tabela abaixo:

 

 

Evolução segundo a terapêutica utilizada

Consulta Municipal Homeopática. Outubro – novembro de 1993

 

Tratamento

Alopático

Tratamento

Homeopático

 

%

%

< 3 dias

2

4,0

26

44,8

3-4 dias

5

10,0

29

50,0

5-7 dias

36

72,0

3

5.2

8-10 dias

3

6,0

-

-

> 10 dias

4

8,0

-

-

Total

50

100

58

100

Fonte: Revista Homeopatia do México – Terapêutica Homeopática na queratoconjuntivite epidêmica

           

            Houve uma diferença significativa p=0,999, demonstrando que o tratamento homeopático foi estatisticamente mais eficaz que o  alopático na melhora dos sintomas em menos de 72 horas, nesta epidemia de queratoconjuntivite.

            Este trabalho é o mais indicado para servir de modelo para futuros estudos sobre o gênio epidêmico.

 

 

Dengue

            É uma doença causada por um flavivírus, RNA, com quatro subtipos: 1,2, 3 e 4, tem distribuição mundial.

            O primeiro trabalho que analisaremos é um trabalho de meta-análise que foi publicado no ano 2000 na revista Homeopatia, volume 65, em que foi realizado um estudo do quadro clínico da dengue de três publicações e as repertorizações foram feitas em busca dos medicamentos que surgem com maior freqüência nestes trabalhos.

            A primeira repertorização feita à partir  da classificação da Organização Mundial de Saúde foram escolhidos os seguintes sintomas repertoriais:

1. Febre - intenso calor febril,

2. Generalidades – debilidade, febre durante,

3. Generalidades – dor, quebrado, como se os ossos estivessem,

4. Cabeça – dor, calor febril durante,

5. Cabeça – dor, estendendo-se aos olhos,

6. Extremidades – dor, febre Durant,

7. Estômago – náuseas, febre durante,

8. Estômago – vômitos, calor febril durante,

9. Costas – dor, febre durante.

            As medicações que cobriram a maior parte dos sintomas e mais pontuadas foram: Natrium muriaticum (9/20), Arsenicum álbum (8/15), Pulsatilla (8/15), Eupatorium perfoliatum (7/18), Bryonia (7/14), Nux vomica (7/14), Rhus toxicodendron (7/13), Lycopodium (7/11), Belladona ( 6/13), Ignatia (6/10).

            Outra análise de três trabalhos que descreviam os sintomas da dengue os sintomas que coincidiam foram:

1. Febre - intenso calor febril,

2. Generalidades – debilidade, febre durante,

3. Cabeça – dor, calor febril durante,

4. Estômago – vômitos, calor febril durante,

5. Costas – dor, febre durante.

            As medicações repertorizadas foram: Natrium muriaticum (5/13), Arsenicum álbum (5/11), Pulsatilla (5/10), Lycopodium (5/8), Eupatorium perfoliatum (4/10), Rhus toxicodendron (4/9), Belladona ( 4/9), Nux vomica (4/8), Bryonia (4/7), Ignatia (4/6).

            As conclusões que o autor chega é de que tantos os trabalhos sobre a dengue, feito por homeopatas e não homeopatas, tem se buscado os sintomas da doença e não os sintomas dos doentes. Também que a coincidência dos sintomas em todos os trabalhos faz com que as medicações homeopáticas sejam as mesmas. Recomenda Natrium muriaticum como medicação preventiva em epidemias ou surtos de dengue.

            O segundo trabalho trata de uma repertorização dos possíveis sintomas pelo quadro clinico da dengue e não um estudo de casos da dengue. O autor seleciona 20 medicamentos e faz uma discussão sobre os mesmos.  As medicações descritas foram; Bry, Rhus-t, Nat-m, Sulph, Merc,  Ars,  Bell, Thuya, Phosp, Puls, Calc, Caust, Nux-v, Lyc, Aço, Com, Fer, Nit-ac, Chin, Lach. É um trabalho que não traz muitas novidades, pois não apresenta nenhuma caracterização de uma epidemia para se buscar o gênio epidêmico.

 

Ebola

            Segundo a definição do CDC (Centers for Disease Control and Prevention U.S. Department of Health and Human Services), a febre hemorrágica Ebola é uma doença severa com freqüentes casos fatais em humanos e primatas, que surge esporadicamente desde seu conhecimento em 1976. Seu agente etiológico é um filovírus.  Os sintomas se caracterizam por febre, dor de cabeça intensa, astenia, mialgias, seguidos de vômitos, dor abdominal, diarréia, faringite, conjuntivite, hemorragias. A transmissão se faz de pessoa a pessoa e os sintomas aparecem entre dois dias há duas semanas após o contato com um doente. O vírus é detectado em todas as secreções do doente, pode ser transmitido também pelo contato sexual ou por meio de seringas não esterilizadas. A taxa de mortalidade  está em torno de 60 a 88% dos casos. O diagnóstico é feito pelo método ELISA, detectando antígenos e anticorpos específicos.

            Em 2001, na revista Gazeta Homeopática de Caracas foi publicado um trabalho intitulado “A Homeopatia tem como enfrentar a infecção pelo vírus Ebola” cujo autor Leonid Lucenko, descreve as fases da doença e o gênio epidêmico da doença. Descreve que a primeira fase da doença é muito semelhante ao quadro clínico da dengue e da gripe com os seguintes sintomas: febre, debilidade, cefaléia intensa e mialgias. Foram repertorizados os seguintes sintomas, debilidade com febre, febre com calafrios, cefaléia durante calafrios, cefaléia durante o calor febril, dores nas extremidades durante calafrios, e dores nos membros durante a febre. O resultado da repertorização foi Arsenicum, Bryonia, Natrium muriaticum, Pulsatilla, Rhus toxicodendrom e Sulphur. Descreve que na fase inicial da infecção pelo vírus ebola, o medico deverá pensar em qualquer um destes remédios, mas principalmente em Ars. e Rhus-tox.

            Na segunda fase da doença o quadro se parece com o cólera, e foram repertorizados os seguintes sintomas, vômitos e diarréia simultâneos, colapso depois da diarréia, colapso depois de vômitos e febre durante os vômitos. Aparecem Arsenicum e Veratrum álbum.

             Na terceira fase da doença, foram escolhidos os sintomas, hemorragia por orifícios do corpo, sangue não coagula, septicemia. O resultado da repertorização foi Lachesis, Crotalus horridus, Bothrops lanceolatus e Phosphorus.

            Na fase da convalescença devido o emagrecimento, a falta de calor vital, dor e ardores, transpiração fácil, apetite aumentado estariam indicados Psorinum, Sulphur, Kali carbonicum, Natrium muriaticum e Tuberculinum.

            Chega a conclusão de que o gênio epidêmico da infecção pelo vírus Ebola é Arsenicum álbum.

            O trabalho tem uma conotação de um estudo teórico sobre uma doença epidêmica, mesmo que sua ocorrência tenha sido no Zaire e Sudão, mas discute que o risco de se levar o vírus através de um individuo infectado no mundo moderno é rápido, devido o encurtamento das grandes distâncias.

 

Meningites

         Constam da história das epidemias de meningite no Brasil, no ano de 1974, um relatório dos médicos homeopatas da época, elucidando as autoridades sanitárias do país, sobre a utilização de nosódio meningococcinum  em Guaratinguetá, São Paulo. Os resultados não foram divulgados neste relatório e não conseguimos obter o trabalho. Mas fica registrado a experiência que pelo relatório obteve bons resultados e tem até orientações técnicas e houve distribuição do nosódio para os médicos homeopatas daquela reunião.

 

Febre Tifóide

            É uma doença bacteriana causada pela Salmonella typhi , caracterizada por febre prolongada, dor abdominal, diarréia, delírio, roséola e esplenmegalia, algumas vezes com complicações como sangramento e perfuração intestinal.

            Atualmente a febre tifóide foi quase eliminada dos países desenvolvidos por rede de esgoto apropriada e tratamento de água, sendo ainda comum em países em desenvolvimento, girando em torno de 11 milhões de casos diagnósticas anualmente. A transmissão ocorre por via fecal-oral e por alimentos contaminados.

O site da Homeoint.org., apresenta um trabalho do Dr. John Henry Clarke intitulado, “A homeopatia explica, algumas estatísticas comparativas”. As estatísticas do tratamento da febre tifóide no Hospital Homeopático e de dois hospitais alopáticos de Melbourne, Austrália, de janeiro a março de 1889. É feita uma comparação entre o número de óbitos nos tratamentos homeopáticos e alopáticos. A taxa de ocupação por leito no mesmo período entre os hospitais de 2 a 4 maior no hospital homeopático e risco de óbito foi 2,5  a 2, 2 vezes menor com o tratamento homeopático.

 

Número de Leitos

Número de Casos de Febre Tifóide

Taxa de ocupação por leito

Óbitos

%       

Hospital de Melbourne

318

431

1,36

78

18.1   

Hospital de Alfred

144

324

2,25

50

15.4   

Hospital Homeopático

60

305

5,10

22

7.2

Melbourne Hospital de Homoeopathic, Estrada de St Kilda (1885-1934), que mais tarde se tornou Hospital do Príncipe Henry.

Hantavirose

Foi registrado pelo Núcleo de Endemias da Diretoria de Vigilância Epidemiológica – SVS – Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em   2004 no Distrito Federal, trinta e oito casos de hantavirose. Com o objetivo de tentar aplicar a  parte da metodologia do gênio epidêmico buscou-se  levantar os sintomas destes casos de hantavirose através de fichas de investigação epidemiológica, e da cópia dos prontuários.

Os instrumentos de coleta dos dados não foram adequados para este tipo de investigação em busca do gênio epidêmico, já que os sintomas registrados em prontuários e as fichas de investigação epidemiológica tem como objetivo identificar sintomas patognomônicos e de risco sem se preocuparem com aspectos necessários para uma investigação através do método homeopático. O método ideal de coleta seria o método homeopático, em que os sintomas são modalizados procurando-se o que há de peculiar e característico nos casos referentes a aquele surto.

A infecção humana causada pelo hantavírus apresenta diferentes formas clínicas, que vai desde uma doença febril aguda até quadros pulmonares e cardiovasculares, às vezes como uma febre hemorrágica com comprometimento renal.

Nas Américas a forma clínica mais prevalente é a Síndrome Cardiopulmonar. Os roedores silvestres são reservatório natural do hantavírus. O modo de infecção é através de inalação de aerossóis, formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores reservatórios de hantavírus.  

A doença manifesta-se por uma fase febril, prodrômica, onde se observa febre, tosse seca, mialgia, descrita na região dorso-lombar, dor abdominal, náuseas, vômitos, astenia e cefaléia intensa, com duração de 3 a 4 dias, podendo ou não evoluir para fase cardiopulmonar. A fase cardiopulmonar caracteriza-se por insuficiência respiratória aguda com choque circulatório, há presença de infiltrado intersticial nos campos pulmonares com ou sem presença de derrame pleural. A fase diurética apresenta poliúria que se caracteriza por eliminação rápida de liquido acumulado no espaço extra-vascular, resolução da febre e do choque. A fase de convalescença que dura até duas semanas com recuperação lenta das alterações hemodinâmicas e da função respiratória. A febre hemorrágica com síndrome renal pode evoluir por quatro semanas e apresentar além dos sintomas já descritos petéquias, rubor facial hemorragias conjuntival, hipotensão, taquicardia, oligúria, hemorragias severas.

Em maio de 2004 teve inicio um surto de hantavirose no Distrito Federal,

foram registrados de maio a dezembro de 2004, 38 casos de hantavirose no Distrito Federal, residentes no DF e cidades do entorno. Destes 20 casos evoluíram para o óbito, uma letalidade de 52,6%. Os doentes evoluíram rapidamente para insuficiência respiratório e descompensação cardiovascular. A forma cardiopulmonar foi à forma prevalente. Encontram-se em autopsias derrame pleural e edema pulmonar.

        

A freqüência dos sintomas entre os 38 casos foi assim distribuída:

SINTOMAS

%

Astenia

37

97,4

Mialgia generalizada

37

97,4

Febre

36

94,7

Respiração difícil

35

92,1

Cefaléia

34

89,5

Dor torácica

26

68,4

Tosse seca

26

68,4

Náuseas e vômitos

23

60,5

Sede intensa

18

47,4

Desidratação

17

44,7

Infiltrado pulmonar intersticial difuso

17

44,7

Dor abdominal

16

42,1

Taquicardia

14

36,8

Tontura /vertigem

14

36,8

Pulso filiforme

13

34,2

Cianose de extremidades

12

31,6

Má perfusão periférica

12

31,6

Dor de garganta

11

29

Hipotensão

11

28,9

Anúria /oligúria

9

23,7

Diarréia

7

18,4

Dor de estomago em queimação

4

10,5

Icterícia

4

10,5

Sudorese profusa

2

5,3

Petéquias

1

2,6

Rash cutâneo

1

2,6

 

 

Observamos de interessante em uma parte dos casos a presença de infiltrado pulmonar intersticial difusa com tosse seca, dispnéia e sede intensa. Os sintomas escolhidos foram os seguintes:

Classificar os sintomas:

GENERALIDADES - PULSO - imperceptível

TÓRAX - EDEMA pulmonar

GENERALIDADES - CIANOSE

GENERALIDADES - DOR - músculos, nos

GENERALIDADES - FRAQUEZA

FEBRE - CONTÍNUA, febre

TOSSE - SECA

ESTÔMAGO - NÁUSEA

ESTÔMAGO - VÔMITO

TÓRAX - INFLAMAÇÃO - Pulmões

ESTÔMAGO - SÊDE - insaciável

A repertorização, pela cobertura dos sintomas temos, os seguintes medicamentos: ars, , verat, am-c, crot-h, hyos, lach, merc,op, phosp, puls.
para acessar figura clique no endereço
http://sites.mpc.com.br/bvshomeopatia/imagens/analisehantovirose.jpg

                 Arsenicum album: é indispensável à agitação física e mental, com ansiedade intensa, fraqueza, frieza no corpo e sede de pequenas quantidades de água e medo da morte. Em casos de gastroenterite aguda apresentam dores gástricas e abdominais ardentes, vômitos violentos. Tosse seca, dilacerante, com escarros pouco abundantes e espumosos, fôlego curto, dificuldade respiratória, engasgos, dispnéia e ataques de sufocação, algumas vezes com suor frio, constrição espasmódica do tórax ou da laringe, angústia, grande fraqueza, frio no corpo, dor na boca do estômago e tosse paroxística.

 Os sofrimentos ocorrem principalmente ao anoitecer, na cama, à noite quando deitado; no tempo ventoso, frio e fresco, ou no calor de um aposento; ou estando agasalhado, fatigado ou irado, ao caminhar, ao mover-se, e mesmo ao rir. Respiração ansiosa, estertorosa e ruidosa.

                Veratrum album: É um dos medicamentos que se assemelham muito ao quadro clinico da hantavirose que evolui rapidamente para um estado de colapso com resfriamento extremo, cianose de extremidades, prostração rápida, acompanhando-se de vômitos violentos e abundantes. Tosse cavernosa, em longos acessos, com eructações dor no abdome. A tosse piora em um quarto quente, após ter bebido água fria. Sensação de contrição no peito, palpitações e ansiedades. Pulso rápido, fraco e irregular. Prostração completa e rápida diminuição da vitalidade, principalmente depois de vomitar ou da diarréia e na cólera. Vômitos copiosos e náusea; agravada por beber e pelo menor movimento. Sede de água fria ,mas é vomitada logo que é engolida.

        Ammonium carbonicum apresenta grande prostração, estados de colapso. Intensa fraqueza e falta de reação ou reação lenta. Tendência a hemorragias de sangue escuro, dispnéia e opressão com palpitações, piora ao menor esforço. Tosse irritante, seca, incessante, edema agudo de pulmão.

            Ammonium carbonicum afeta muito freqüentemente as mucosas dos órgãos respiratórios. Margaret Tyler, em Retratos dos Medicamentos Homeopáticos descreve que “Ammonium carbonicum é um medicamento de condições severas, até mesmo desesperadoras”.

            Ammonium carbonicum é descrito nas Matérias Médicas Clinicas como um medicamento que tem um grande estado exaustão, afeta o coração e pulmões. Usado pelos médicos antigos em pneumonias. Segundo Kent, Ammonium carbonicum apresenta um estado análogo ao envenenamento sanguíneo.

       Crotalus horridus: apresenta prostração profunda, hemorragia por todos os orifícios. Kent diz: “Crotalus está indicado nas doenças mais graves, do tipo pútrido,, que surgem numa rapidez incomum, chegando ao estado infeccioso em muito pouco tempo”. Insaciável sede queimante. Eructações cáusticas, ácidas, rançosas. Náusea ao movimento, vômitos biliosos. Vômito verde-escuro, imediatamente após deitar do lado direito ou de costas. Vômito preto. Freqüente queda e desfalecimento, sensação de fome no epigástrio com tremores e sensação de uma vibração que desce. Necessidade de estimulantes. Dor angustiante, inquietude, sensação de frio, pulso fraco. Não pode tolerar roupas em torno do estômago e hipocôndrio. Hematêmese, sangue não coagula.

       Hyoscyamus niger: Vômitos com convulsões; hematêmese; câimbras violentas, aliviadas vomitando; ardência no estômago; epigástrio sensível. Períodos de sufocação. Espasmo, forçando a inclinar-se para a frente.  Tosse seca ,espasmódica de noite ( piora deitando, melhora sentando na cama), devido a coceira na garganta, como se a úvula fosse comprida demais.  Hemoptise. Fala de uma maneira incoerente, sem sentido, balbuciando, trocando de um tema para outro, dizendo coisas ridículas apressadamente e com voz, às vezes, tipo ébria.  Medo de ser envenenado.

           Lachesis: Prostração mental e física, irritabilidade, deseja falar o tempo todo, grande sensibilidade do estomago que fica dolorido ao toque, sensação de sufocação pior estando deitado, procura sair do leito e ir para uma janela. Tosse seca e dilacerante, durante o sono, com perturbações cardíacas.

Mercurius: sede intensa, piora noturna, suores profusos. Tosse com ânsias, vômitos e asfixias. Dor no tórax ao tossir, como se fosse estourar, pontadas no tórax ao tossir, espirrar e respirar. Dispnéia ao menor esforço.

Opium: todos os transtornos acompanhados de grande estupor, não sente dor, não sofre nada, não se queixa de nada e não pede nada. Respiração estertorosa. Dor precordial com grande ansiedade, tosse seca violenta, pior a noite, depois de descansar, ao engolir, ao suspirar. Tremores nas extremidades. Medicação importante para transtornos após susto.

Phosphorus: Ação profunda sobre o sangue e sistema nervoso. Prostração profunda com irritabilidade. Agitação continua, nunca está tranqüilo, sede inextinguível por água fria que é imediatamente rejeitada quando aquecida no estomago. Náuseas que pioram ao beber água gelada, vômitos a todo instante. Sensação de vazio no estomago. Tosse com sensação de opressão considerável, sensação de aperto no peito e dores ardentes. Deve sentar-se em seu leito para expectorar. Palpitações com grande ansiedade. Tendência a hemorragias.

Pulsatilla: as dores são erráticas, passando rapidamente de um lugar para o outro. Aversão ao calor e desejo de ar frio. A tosse seca à noite ou à tarde, após estar deitado, obrigando o doente a sentar-se para obter alívio, reaparecendo quando o doente torna a deitar-se. Palpitações estando deitado do lado esquerdo. Estases venosas, retardamento da circulação de retorno.

            Não foi possível através desta breve análise individualizar, encontrart o que havia de característico neste surto de hantavirose, pela dificuldade de encontrar o que há de peculiar e característico nestes trinta e oito casos de hantavirose. Mas podemos concluir que para a busca do gênio epidêmico será necessário desenvolver formulários de coleta de dados adequados e consulta homeopática com os enfermos para encontrarmos o que há de característico e peculiar em cada caso e assim individualizarmos aquele surto ou epidemia. Na lição XXXII em Filosofia Homeopática, Kent descreve:

“Uma verdadeira prescrição homeopática não pode basear-se na patologia ou na anatomia patológica; pois as experimentações nunca foram levadas a tais extremos. O que a patologia nos dá são os resultados da doença e na a linguagem da natureza, que faz apelo ao medico inteligente. O verdadeiro tema que se deve conhecer é a sintomatologia. Ninguém, que só conhece a anatomia patológica e os sintomas patognomônicos, será capaz de prescrever homeopaticamente. Além de habilidade diagnóstica, o médico tem que possuir um conhecimento específico, isto é, ele tem de conhecer a forma de expressão de cada uma e de todas as doenças. Deverá saber exatamente como cada doença se expressa em linguagem, no aspecto e nas sensações. Como exatamente cada remédio afeta a espécie humana na memória, na inteligência e na vontade, pois em nenhuma outra área ele atua tão poderosamente como sobre a mente...” (KENT,2002, p.255-256).

  

 Discussão

        Nossa primeira questionamento para a realização deste estudo histórico da aplicação da homeopatia em surtos e epidemias foi sobre um dos pilares da homeopatia, a indivualização.  Na homeopatia os sintomas gerais onde estão incluídos os sintomas mentais são considerados os de mais alta hierarquia para a seleção do medicamento homeopático. Porém apresenta valor incontestável um sintoma local bem modalizado. Na maioria dos estudos de doenças epidêmicas que conseguimos levantar vimos que os sintomas em sua grande maioria eram sintomas gerais propriamente ditos e locais, modalizados, que não deixaram de representar o que individualiza aquela doença epidêmica, ou seja, o gênio epidêmico, compreendendo o nosso segundo questionamento, o entendimento de gênio epidêmico.

            Os critérios para a busca do gênio epidêmico nas doenças epidêmicas consiste em primeiro lugar na observação dos sinais e sintomas da doença, anotando-os e identificando através da repertorização o medicamento ou grupo de medicamentos que mais se assemelham ao quadro ou que cobre a maioria dos sintomas, ou seja, a totalidade sintomática. 

            Nos trabalhos analisados, no aspecto que se refere a prescrição do medicamento homeopático quanto as potências e a repetição das doses somente o protocolo sobre a epidemia de cólera no Peru de 1991 fala da repetição da dose a cada 5 a 10 minutos, em potencias baixas, em torno da 7CH. Esclarecendo que o espaçamento das tomadas aumenta o risco de recaídas.

            Em nenhum destes trabalhos analisados foram descritos os sintomas mentais. Estes trabalhos foram realizados na vigência do surto -Acreditamos que diante de situações como as epidemias o objetivo principal foi o de salvar vidas e trabalhar com os sinais e sintomas presentes nos casos de doença, sendo este tipo de análise muito mais profunda e difícil de ser feita durante a ocorrência de um surto ou epidemia.

            O levantamento bibliográfico realizado demonstra a inquestionável efetividade da homeopatia nas doenças epidêmicas, nos estudos ou levantamentos da mortalidade em pacientes tratados pela homeopatia e alopatia.

            Durante o estudo da hantavirose, observamos a dificuldade de encontrar sintomas modalizados em formulários e prontuários, sendo necessário ao médico homeopata estar junto a este paciente nos serviços de pronto-atendimento ou vigilância epidemiológica, a fim de qualificar estes sintomas e desta forma encontrar o gênio epidêmico da doença epidêmica, já que em cada epidemia   de uma mesma doença apresenta-se de forma diferente da anterior.

 

  Conclusões

A escolha do tema veio do interesse de aplicar a homeopatia em situações inusitadas como a que vivenciamos no Distrito Federal, em 2004, com um surto de hantavirose, em que em torno de 52,6% dos casos evoluíram para o óbito.

 Nesta pequena excursão em busca de trabalhos científicos que comprovam a aplicação da homeopatia em epidemias, observamos a baixa produção de estudos sobre a utilização de medicações homeopáticas em surtos e epidemias. A homeopatia junto ao serviço público ainda é muito restrita a atendimentos ambulatoriais, e o homeopata em sua grande maioria não trabalha em atendimento hospitalar e nem mesmo junto aos serviços de Vigilância Epidemiológica e, portanto não atuam em situações de epidemias, endemias ou surtos de determinados agravos á saúde.

            Vimos em diversos trabalhos a efetividade da homeopatia, e principalmente a chance de tratamento para doenças emergentes que não possuem tratamento, como a hantavirose que vivenciamos ainda no Distrito Federal.

            A homeopatia ainda está distante desta área de atuação do setor saúde,  e não podemos ficar como simples observadores, já que a terapêutica homeopática muito pode acrescentar e contribuir para melhoria da qualidade do atendimento e prognóstico dos casos em doenças epidêmicas e não epidêmicas.

         Novos estudos deveriam ser realizados na vigência de surtos ou epidemias, colaborando não só na busca dos medicamentos homeopáticos que correspondam ao gênio epidêmico, mas também com o objetivo de desenvolver a metodologia para busca do gênio epidêmico, dos instrumentos de coleta de dados, favorecendo a abordagem homeopática em casos de surtos e epidemias. Este aprofundamento do estudo do gênio epidêmico buscando também estudar as posologias, repetição de doses e os intervalos mais adequados entre as doses. 

    

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Monografias consultadas:

  1. Gênio Epidêmico – Um levantamento bibliográfico

Martini, D.S ; Mota, J. Z; Mota, J.L; Varejão, M. R.; Pasqual, M.C; Caetano; P.A.

  1. Gênio Epidêmico das Otites Externas

Greghi, E. M.

 

 

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